segunda-feira, agosto 29, 2016

HARI TRINDADE, A POETISA DA SEMANA: "TEU RETRATO, PINTADO POR MIM"




TEU RETRATO, PINTADO POR MIM


Se pintora eu fosse,
pintaria teu rosto
com todas as cores da paleta.
A cor intensa de Frida Kahlo,
para ressaltar tua beleza.

Em teus cabelos, usaria o negro,
usado por Van Gogh
em Nuit Etoilée.
Com fios prateados,
enalteceria teu olhos
na minha cor noite.

O vermelho sangue em tua boca,
para destacar teu sorriso tão alvo,
como a Crucificação Branca
iluminada de Chagall.

E em tuas mãos...ahh tuas mãos!
(que dizem tanto),
usaria o rosa pálido,
como a cor das Madonas de Tiziano.
Nelas poria uma pena,
para poetar como Da Vinci.

Como não sou pintora,
pinto teu retrato em minha mente.
Lembrando tua imagem,
sorridente,
colorida,
brilhante,
matizada.

- Pintado com as cores que inventei.


Hari Trindade
Imagem – Internet





Hari Trindade, nascida em 1963, é Mãe, Amiga, Companheira… é MULHER.
A sua ideia de vida centra-se no conceito de que o amor está em todos e, assim, é para todos, de igual modo.
A autora escreve sobre o amor, suas ações e reações, em forma de poesia.
Como mulher, ela traz, às mulheres, palavras que confortam a alma, e alegram o coração de quem ama, ou espera o amor. Mas as suas palavras também se dirigem aos homens, pois também eles se podem rever em tudo o que ela escreve, com igual ênfase!
Publicou duas coletâneas em 2013, “Café com Verso” pela Futurama Editora, e “Mulheres Fascinantes”, pela Editora Delicatta.
Como fervorosa amante da poesia, Hari Trindade usa o papel e a tinta para transmitir o que sente, levando aos apaixonados, palavras de amor, como um bálsamo para alguns dos seus momentos!
A poetisa vive, em Florianópolis, no sul do Brasil.

Site:


domingo, agosto 28, 2016

IMAGEM DO DIA, COM HERMANN HESSE








PELA NOITE, COM ADÉLIA PRADO: "A SERENATA"


A SERENATA


Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?



ADÉLIA PRADO



Adélia Luiza Prado de Freitas nasceu em 1936 em Divinópolis-MG, onde cresceu e se educou. Formou-se em Filosofia e trabalhou como professora. Em 1971 publicou o livro de poemas “A Lapinha de Jesus”, junto com Lázaro Barreto. Cinco anos depois foi que publicou sozinha o seu primeiro livro, Bagagem (1976), revelando uma artista de extrema originalidade e lirismo. Publicou depois “Coração Disparado” (1978), coletânea que trouxe a consagração merecida, trazendo-lhe o Prémio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro de São Paulo.

Os seus poemas, contos e romances registam o cotidiano das pequenas cidades do interior, com fortes manifestações de religiosidade. “Lá estão as comadres, as santas missões, as formigas pretas, o angu, as tanajuras, as pessoas na sombra com faca e laranja”, afirma Afonso Romano no prefácio da coletânea “Coração Disparado”. Adélia faz poesia como quem está com o caderno ao lado do fogão, dizendo verdades que não foram ditas pelos “poetas” até então. Isto ela faz num tom mágico e fantástico, recriando a vida do interior mineiro por meio de uma linguagem inovadoramente feminina, isto é, ela não repete a mesma linguagem usada pelos poetas modernistas, nem os seus poemas versam sobre imagens desgastadas como “noite-canto-solidão”.

O grande mérito de Adélia Prado é que ela explora temas como a família, elemento praticamente descartado pelos poetas brasileiros, que preferem falar nas amantes, quando muito em noivos e noivas. Ela valoriza a vida nas menores coisas, como os afazeres da casa, até as mais comuns, como a gravidez no poema “Esperando Sarinha”, que revelam os mais simples desejos e expectativas de uma gestante.
Além disso, incorpora na sua obra a presença da mulher concreta em si mesma, capaz de revelar um erotismo ausente na “poesia feminina” convencional. Desta forma, revela uma mulher que vai além das ideologias, dos preconceitos, destemida a ponto de descartar a maneira masculina de olhar o mundo e os clichés da ideologia literária e social.

Alguns de seus poemas dialogam com os de Fernando Pessoa, Guimarães Rosa e Drummond, mas só para os marcar de uma maneira surpreendentemente inovadora. O seu primeiro livro começa com o poema “Com Licença Poética”, onde ela retoma pelo avesso o gauche de Drummond. Outra releitura bastante interessante é a que ela faz do poema “No meio do caminho”, também de Drummond: “Achei engraçado quando o poeta tropeçou na pedra / Eu tropeço na lei de jugo suave: ‘Amai-vos’”.

A poesia de Adélia Prado revela uma constante alegria de estar viva, mesmo diante de tantas adversidades. Até mesmo os palavrões que ela usa nos seus textos aparecem com tanta naturalidade, que quase passam despercebidos. E aqui cabe uma consideração importante: o modernismo “dessacralizou” apenas a gramática, mas a linguagem continuou sendo a mesma “casta e burguesa” de sempre.

Inspirado neste poema, Martha Medeiros escreveu o livro "Doidas e Santas", que posteriormente adaptou para o teatro.



ITÁLIA ENTERRA OS SEUS MORTOS E O MUNDO CHORA






O funeral das mais de 290 vítimas que morreram no terremoto que destruiu parte da região central de Itália começou neste sábado. Na cidade de Arquata, 35 pessoas foram veladas juntas, numa cerimónia que teve lugar no ginásio desportivo da cidade.


Entre estes corpos, um deles dos corpos  é o de Giulia Rinaldo, de apenas 10 anos. O corpo de Giulia foi encontrado pela equipa de bombeiros em cima do da sua irmã mais nova, Georgia, encontrada viva depois de 16 horas de buscas na cidade de Pescara del Tronto.

Um dos bombeiros que trabalharam neste resgate, conhecida apenas como Andrea, deixou uma carta para à vítima que ela não conseguiu salvar. O bilhete foi deixado em cima do seu caixão.

A carta diz o seguinte:
"Olá, minha querida. Apenas consegui puxar-te com uma mão para fora dos escombros. Perdoa-nos por termos chegado tarde demais. Tinhas deixado de respirar, mas gostaria que soubesses que fizemos tudo o que podíamos para te salvar. Quando regressar à  minha casa em Áquila, sei que estará um anjo que me olha lá do céu e que haverá mais uma estrela brilhando na noite. Tchau, Giulia, amo-te, mesmo que nunca me tenhas me conhecido"

Este não foi, contudo, um dia assim tão triste para a pequena Giorgia. Resgatada após mais de 16 horas de estar soterrada em Pescara del Tronto, Giorgia pôde viver para celebrar curiosamente, no mesmo dia de sábado, 4 anos de vida.

Realçando a importância do acontecimento e do dia, a pequena sobrevivente recebeu a visita do Presidente de Itália, Sergio Mattarella que fez questão de oferecer a Giorgia uma boneca como prenda pelo seu 4.°aniversário.


Itália viveu este dia de sábado como um dia de luto nacional, marcado pelo que foi descrito como um funeral de Estado para 35 das quase 300 vítimas do forte sismo que na madrugada de quarta-feira arrasou parte do centro do de Itália.






sexta-feira, agosto 26, 2016

IMAGEM DO DIA, COM MANUEL ALEGRE








HARI TRINDADE, A POETISA DA SEMANA: "ALMA ANTIGA"




ALMA ANTIGA


Minha alma é tão antiga,
já andou por vales e encostas.
Morreu em castelos de pedras,
correu pelos campos de mimosas amarelas,
banhou-se em rios claros e limpos.

Foi amada, perdeu seu amado.
Sofreu a dor da morte,
dançou flamenco com vestido azul,
tomou vinho nas tabernas de Sevilha,
sentiu o frio dormindo em pallozas.

Conheceu os mares do Hawaí.
Foi feiticeira, e enfeitiçada,
viu seu amor partir para sempre,
chorou lágrimas ácidas de dor,
vagou pelas areias a espera do amor.
onde viu naufragar navios piratas.

Minha alma apazigou-se,
encontrou o ser amado outra vez.
Foi feliz, protegida e amada,
caminhou com ele, pelas ruas da Idade Média,
deitou-se, e fez amor na relva verde.
Sorriu ao amado com paixão,
para guerra perdeu seu amor,
vagou triste até padecer.

Renasceu em outro corpo,
outra vida, outra era.
Recomeçou sua busca pelo amor perdido.
Minha alma tão antiga,
encontrou seu amado
para perde-lo para vida.

Entristeceu,
fechou-se,
outra vez sofreu.
Vive agora à espera,
de junto ao ser amado,

- voltar a renascer!


HARI TRINDADE




Hari Trindade, nascida em 1963, é Mãe, Amiga, Companheira… é MULHER.
A sua ideia de vida centra-se no conceito de que o amor está em todos e, assim, é para todos, de igual modo.
A autora escreve sobre o amor, suas ações e reações, em forma de poesia.
Como mulher, ela traz, às mulheres, palavras que confortam a alma, e alegram o coração de quem ama, ou espera o amor. Mas as suas palavras também se dirigem aos homens, pois também eles se podem rever em tudo o que ela escreve, com igual ênfase!
Publicou duas coletâneas em 2013, “Café com Verso” pela Futurama Editora, e “Mulheres Fascinantes”, pela Editora Delicatta.
Como fervorosa amante da poesia, Hari Trindade usa o papel e a tinta para transmitir o que sente, levando aos apaixonados, palavras de amor, como um bálsamo para alguns dos seus momentos!
A poetisa vive, em Florianópolis, no sul do Brasil.

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quinta-feira, agosto 25, 2016

PELA TARDE, COM MIA COUTO: "O ARDINA"

O ARDINA

Já vi a água morta.
Já escutei a ventania torta.
Já vi a terra chover
Já escutei a pedra sofrer.

Tudo isto me disse
o menino que todos os dias,
me traz o jornal.

O menino falou
e a omoplata lhe subiu
a sustentar o peso  dos graves carregos.
A cidade emagrecia
nos ombros da criança.

O passo do menino
não foi feito para um caminhar tão escravo.
Ainda chamei.
Mas a cidade, devoradora de infância,
já engolira o pequeno ardina.  

Nessa tarde,
o tédio me descoloria,
tudo estava morto,
faltava morrer o cemitério.

Foi quando o ardina
voltou a anunciar
o que vira e escutara
na água, na terra, na pedra e na chuva.

Foram as melhores notícias
que ele alguma vez me trouxe.


MIA COUTO
(Idades, cidades, divindades, pág. 64)

Maputo, 2005

quarta-feira, agosto 24, 2016

À NOITINHA, COM ARY DOS SANTOS: "CAVALO À SOLTA"


 
CAVALO À SOLTA


Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.

Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstea
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.

Em ti respiro
em ti eu provo
em ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.

Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.

Por isso digo
canção castigo
Amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.

Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.


ARY DOS SANTOS




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